Conheça as obras urbanas e arquitetônicas das Olimpíadas de 2012 e entenda como a capital inglesa se preparou para receber, pela terceira vez, o maior evento esportivo do mundo
Eric Moniz
O mundo já está de olho nas Olimpíadas de 2012, que começaram
oficialmente na última sexta-feira, com uma linda e iluminada cerimônia que agitou
Londres, a cidade sede dos jogos. A capital inglesa se preparou para receber as
Olimpíadas com a austeridade e a pontualidade britânica de sempre e mostrou,
mais uma vez, apesar de algumas críticas, que a Inglaterra é exemplo de
organização, conhecimento e trabalho.
Em tempos difíceis para a economia europeia, não faltaram
esforços para que a cidade economizasse na execução das obras olímpicas. O
Parque Olímpico de Londres foi erguido por meio de um planejamento urbano e de projetos
arquitetônicos que buscaram sustentabilidade de várias formas. O jeito inglês
de preparar os jogos olímpicos demonstra a inteligência de um povo tradicional
e de primeiro mundo, que já recebeu os jogos em 1908 e em 1948.
Ser anfitriã de um megaevento esportivo é motivo de orgulho e
comemoração para uma cidade, pois ele oferece a ela uma grande oportunidade de
melhorar a qualidade de vida de sua população. Com a visibilidade mundial e o
incentivo turístico gerados pelo evento e as necessárias melhorias de
infraestrutura, uma cidade olímpica pode garantir um bom legado e melhorar sua
economia e o bem-estar dos cidadãos.
Londres dá todos os indícios de ter se planejado corretamente
para aproveitar essa oportunidade. Uma das maiores razões disso é o projeto do
Parque Olímpico, que teve como intenção aproveitar as instalações olímpicas já
existentes para recuperar uma área degradada da cidade, tornando-a uma nova
área verde, recheada de atrativos culturais e de lazer.
O local escolhido para sua implantação se localiza no bairro
Stratford, nas margens do Rio Lea, na zona leste de Londres. A área era uma
antiga área industrial poluída, degradada e que precisava de revitalização. Já
no início da limpeza do bairro e do rio, em 2005, para as obras do parque, o lugar
começou a receber em seu entorno novos estabelecimentos comerciais, visando ao
evento de 2012, o que iniciou o processo de sua transformação. A maior parte
das obras do parque foi concluída há um ano, quando ele já passou a ser
visitado e logo virou um ponto turístico. O projeto prevê que, após o evento,
ele se torne o Parque Rainha Elizabeth, que será preparado para oferecer
atrativos voltados às famílias inglesas e aos turistas.
A maioria das competições irá acontecer no Parque Olímpico,
onde se concentram as principais instalações esportivas dos jogos. Elas foram construídas
para serem obras sustentáveis, de custos reduzidos e com previsão de reaproveitamento
e de reciclagem de materiais. Muitas das obras são construções provisórias, que
serão desmontadas e reutilizadas em outros locais do Reino Unido. As que são
fixas foram projetadas para serem adaptadas, após as Olimpíadas, aos novos usos
de lazer do parque. Alguns materiais que constituem as estruturas das obras
foram produzidos em indústrias próximas à área do parque, o que reduziu custos
com o transporte e fez com que o trânsito da cidade fosse menos impactado.
O projeto do Parque Olímpico contou com o apoio dos moradores
de Stratford, que relataram suas necessidades e fizeram questionamentos aos
projetistas. As edificações são futuristas e têm a assinatura de arquitetos
renomados internacionalmente. Em sua concepção, os arquitetos se preocuparam
com detalhes mínimos, como a intensidade do vento de direção contrária que
impacta os atletas no velódromo e a intensidade de luminosidade do estádio, para
garantir ao telespectador uma visibilidade confortável, em transmissão digital.
As principais obras do Parque Olímpico são:
Estádio Olímpico
Palco das cerimônias e das competições de atletismo. Foi
projetado pela empresa Populous e construído com uma estrutura
econômica, flexível, compacta, leve e ambientalmente correta (aço 75% mais
leve, concreto de baixo carbono e anel superior feito de sobras de tubos de gás
reciclados). O desnível do terreno foi aproveitado para a concepção das
arquibancadas, o que reduziu custos com estrutura. Cinco pontes dão acesso ao
estádio, que é cercado por rios. Ele continuará sendo utilizado para esportes e
eventos culturais após os jogos, porém terá parte de sua arquibancada
desmontada.
Centro Aquático
Abriga as piscinas e
as instalações de apoio para as competições de natação, nado sincronizado e saltos
ornamentais. A responsável por ele é a grande arquiteta Zaha Hadid, que o projetou
na belíssima forma de uma arraia. Sua parte intenra também surpreende, pelo
design limpo e o teto em formato de onda. Depois das Olimpíadas, o Centro
Aquático terá suas asas removidas e será transformado em um clube, que servirá para
treinamento de nadadores.
Velódromo
Local das competições de ciclismo de pista. Foi considerada
a obra mais sustentável do parque, por utilizar madeira certificada e ter
ventilação e iluminação naturais otimizadas, o que reduz custos energéticos e o
impacto ao meio ambiente. Nessa edificação, não foi preciso utilizar ar
condicionado. Sua forma arquitetônica é muito bonita. Após os jogos, se tornará
um clube esportivo de ciclismo e ganhará uma nova estrutura comercial de apoio.
Orbit
É uma
torre de observação feita de aço, de onde é possível visualizar todo o parque e
alguns espaços de Londres. Foi concebida pelos artistas Anish Kapoor e Cecil
Balmond, que projetaram uma forma desconstruída em relação à forma de uma torre
tradicional, reta.
Arena de Basquete
Onde ocorrerão os jogos de basquete e handebol. É um dos maiores locais temporários construídos para as
Olimpíadas. A arena será retirada do parque após o evento e suas peças serão
aproveitadas em outros espaços.
Arena de Pólo Aquático
Abrigará o pólo aquático em uma
estrutura provisória, que será desmontada após os jogos e terá suas peças
reutilizadas em outros lugares.
Caixa de Cobre
Local que abrigará competições de handebol, esgrima e
pentathlon moderno. A edificação se destaca pela fachada toda revestida por
cobre e mantém relação interior e exterior, em sua entrada, por meio de paredes
de vidro. Depois das Olimpíadas, se tornará um espaço multiuso para eventos e
esportes, com uma infraestrurura mais familiar, para que os visitantes se
apropriem do local.
Vila Olímpica
Conjunto de edifícios que abriga os mais de 15 mil atletas
que participam dos jogos. Após o evento, o empreendimento será transformado em
um conjunto habitacional com mais de 2.800 apartamentos destinados à população
de baixa renda.
Para economizar, Londres aproveita instalações esportivas
existentes em outros locais da cidade para realizar as competições olímpicas.
Wimbledon, que é a casa do tênis na capital londrina, é um desses locais. As
melhorias urbanas, como a reforma de estações e a implantação de linhas de
metrô, por exemplo, foram realizadas aos poucos. Cada centavo foi controlado e poupado
nas obras, que custaram exatamente o orçamento previsto: mais de R$ 27 bilhões.
Mesmo com toda essa economia, as construções demonstram ser
da melhor qualidade. A pontualidade da entrega das obras permitiu que houvesse
tempo para correções e garantiu mais qualidade ao parque. Eventos-teste
aconteceram desde 2011 nas instalações, para que os erros fossem detectados.
Foi realizado um concurso em duas etapas para a escolha dos
melhores projetos para as partes norte e sul do Parque Rainha Elizabeth. Os vencedores
atendem à demanda de adequação e transformação dos espaços olímpicos em locais
públicos agradáveis e dinâmicos e preparam a Londres do futuro, que certamente
será próspera.
Projeto vencedor do concurso para implantação da parte sul do Parque Rainha Elizabeth (Imagem: Site Concursos de Projeto) |
Projeto vencedor do concurso para implantação da parte sul do Parque Rainha Elizabeth (Imagem: Site Concursos de Projeto) |
Projeto vencedor do concurso para implantação da parte norte do Parque Rainha Elizabeth (Imagem: Site Concursos de Projeto) |
Daqui a pouco, os olhares do mundo se voltarão para o Brasil –
mais precisamente para o Rio de Janeiro, que sediará as Olimpíadas de 2016. Por
isso, há muito trabalho pela frente. Vamos torcer!